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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Falta “educação de qualidade” nas propostas dos candidatos


É fundamental exigir que educação esteja mais presente na plataforma dos candidatos

Em 2006, o senador Cristovam Buarque (PDT), então candidato à Presidência da República, direcionou toda a sua campanha em torno da “causa da Educação”. Com origem política nos bancos escolares e ex-ministro da Educação da primeira metade do primeiro governo Lula, Cristóvão Buarque chegou a ser taxado de “enfadonho” por se referir somente ao mesmo tema, “como se fosse esta a única necessidade do Brasil”. Pelos resultados das urnas, a bandeira defendida por Buarque está longe de ser uma preocupação constante do eleitor.

Mas é, no mínimo, injusto dizer que o senador Buarque tenha sido “enfadonho”. Educação é sim a origem de grande parte dos males do Brasil. É a partir da ignorância da população que se desenvolvem problemas relacionados à cidadania e ao desconhecimento de direitos e deveres. Neste dia 15 de outubro – Dia do Professor – é fundamental exigir que o tema esteja mais presente na plataforma dos candidatos que disputam a Presidência da República, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). Como atualmente não existe um “enfadonho” Cristovam Buarque, parece que o assunto virou secundário, o que é um prejuízo ao País.

E a preocupação da população, especialmente por parte dos jovens, está voltada não só à universalização da educação, mas também à qualidade do ensino empreendido nas salas de aula. Letícia Bechara, coordenadora de vestibular da Trevisan Escola de Negócios, apresenta dados interessantes acerca da preocupação em torno da boa educação. Ela demonstra, com base em pesquisa da Data Popular, em setembro deste ano, que o jovem relaciona o sucesso diretamente à formação, “especialmente de qualidade”, pontua. No estudo, 75% dos jovens concordam que ter um diploma só vale a pena se o ensino for bom.

Letícia Bechara aponta ainda que, por outro lado, são as universidades públicas que figuram entre as instituições de ensino superior com melhor avaliação. “Pesquisa recente indica que a USP e a Unicamp estão entre as 300 melhores do mundo, de acordo com ranking elaborado pela consultoria QS”, aponta. Com base nesta conjectura, Letícia lembra que as classes A e B continuam sonhando com o ingresso nessas instituições, cuja concorrência deixa praticamente de fora os alunos da rede pública. “Em outra vertente”, assinala a administradora, “o fato de a classe C já estar ocupando lugar em 22% nas escolas privadas de Ensino Fundamental e Médio, demonstra que esse grupo social enxerga no ensino particular a chance de conseguir vaga no ensino público superior”.

Quando o caminho (aluno da rede pública – universidade pública) não se realiza, os jovens da Classe C se deslocam às universidades particulares, o que representa 80% das vagas nas Instituições de Ensino Superior (IES). E, novamente, a escolha é criteriosa, já que, como Leticia apontou em seu artigo, “diploma só vale se tiver qualidade”. E os fatores mais importantes para escolha da universidade passam a ser a partir da avaliação do Ministério da Educação (MEC) – por meio do Enade e Índice Geral de Cursos (IGC).

Está claro que, muito além da universalização do ensino fundamental, os estudantes querem é ensino de qualidade, seja ele na escola pública ou privada. Cabe aos políticos abraçarem, à moda de Cristovam Buarque, o ensino como “causa” e não terem receio de serem taxados de “enfadonhos”.


Erich Vallim Vicente na Tribuna  do Leitor – Piracicaba, São Pedro e Rio das Pedras

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