O Psol apresentou nesta quarta-feira (16) ao Conselho de ÉticaÓrgão encarregado de zelar pela observância da ética e do decoro parlamentar na Câmara. Compete-lhe instaurar e instruir os processos disciplinares referentes a denúncias de atos incompatíveis com o decoro parlamentar, recomendando ou não punições cabíveis aos deputados, que vão desde a censura oral até a recomendação de perda de mandato. Caso seja aprovado parecer que recomende punições severas, ele deverá ser votado pelo Plenário em dois dias, em votação secreta. O conselho atua mediante provocação da Mesa Diretora, nos casos de instauração de processo disciplinar. representação contra a deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF), por quebra de decoro parlamentarConjunto de princípios éticos e normas de conduta que devem orientar o comportamento do parlamentar no exercício de seu mandato. . Jaqueline e seu marido, Manoel Neto, foram filmados recebendo dinheiro de Durval Barbosa, operador e delator do esquema de corrupção conhecido como “mensalão do DEM”, durante a campanha para a Câmara Legislativa em 2006. Por meio de nota, a deputada alegou que o dinheiro era um recurso não contabilizado de campanha. O Psol pede a cassação do mandato de Jaqueline.
Durante a análise do processo, o colegiado deverá discutir se é possível a condenação de deputado por fatos cometidos antes do início do mandato. Segundo o líder do Psol, deputado Chico Alencar (Psol-RJ), não há qualquer impedimento legal para isso. “A eleição não anistia quem está na vida pública de malfeitorias passadas. A vida pública é um contínuo e é notório que mandatos de representação exercidos anteriormente também embasam a conquista de mandatos contemporâneos”, argumentou.
Reeleito hoje para presidir o Conselho de Ética, o deputado José Carlos Araújo (PDT-BA) lembrou que caberá ao relator do caso avaliar as denúncias contra Jaqueline e propor a cassação do mandato da deputada ou a rejeição da denúncia. O conselho vai analisar o parecer do relator e, caso a cassação seja aprovada pelo colegiado, caberá ao Plenário da Câmara votar a perda do mandato.
Instauração do processo
O relator do caso somente será designado após a instauração formal do processo disciplinar contra Jaqueline Roriz, que deverá ocorrer somente na próxima quarta (23), de acordo com Araújo. Isso porque ainda é preciso enviar a representação do Psol à MesaA Mesa Diretora é a responsável pela direção dos trabalhos legislativos e dos serviços administrativos da Câmara. Ela é composta pelo presidente da Casa, por dois vice-presidentes e por quatro secretários, além dos suplentes de secretários. Cada secretário tem atribuições específicas, como administrar o pessoal da Câmara (1º secretário), providenciar passaportes diplomáticos para os deputados (2º), controlar o fornecimento de passagens aéreas (3º) e administrar os imóveis funcionais (4º). da Câmara, que posteriormente vai numerá-la e publicá-la.
Até que o processo seja instaurado, Jaqueline poderá renunciar para escapar da cassação. De acordo com a Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar 135/10), porém, os deputados “que renunciarem a seus mandatos desde o oferecimento de representação ou petição capaz de autorizar a abertura de processo ” poderão ficar inelegíveis pelo período remanescente de seus mandatos e os oito anos seguintes".
Duração do processo
José Carlos Araújo disse que não pode avaliar em quanto tempo o processo contra Jaqueline Roriz será concluído no Conselho de Ética. “Por enquanto, não sabemos quais investigações serão necessárias, quais testemunhas deverão ser inquiridas. É o relator quem vai conduzir todo esse processo”, disse. Mas, segundo Araújo, o colegiado evitará qualquer medida para atrasar o processo.
Jaqueline Roriz apresentou à Câmara nesta semana atestado de licença médica de cinco dias. De acordo com Araújo, a medida não impedirá o andamento normal do processo. “Sabemos que a deputada goza de boa saúde e que, portanto, não há motivo para uma licença médica protelatória. Caso seja preciso, vamos notificá-la pelo Diário Oficial”, afirmou.
Durval Barbosa
O deputado Fernando Franscischini (PSDB-PR), suplente do Conselho de Ética, disse hoje que vai propor a convocação de Durval Barbosa ao colegiado. A ideia, segundo ele, é questioná-lo sobre os vídeos gravados mas ainda não divulgadas ou entregues ao Ministério PúblicoA Constituição (art. 127) define o Ministério Público como uma instituição permanente, essencial ao funcionamento da Justiça, com a competência de defender a ordem jurídica, o regime democrático e os interesses sociais e individuais indisponíveis. O Ministério Público não faz parte de nenhum dos três Poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário. O MP possui autonomia na estrutura do Estado, não pode ser extinto ou ter as atribuições repassadas a outra instituição. Os membros do Ministério Público Federal são procuradores da República. Os do Ministério Público dos estados e do Distrito Federal são promotores e procuradores de Justiça. Os procuradores e promotores têm a independência funcional assegurada pela Constituição. Assim, estão subordinados a um chefe apenas em termos administrativos, mas cada membro é livre para atuar segundo sua consciência e suas convicções, baseado na lei. Os procuradores e promotores podem tanto defender os cidadãos contra eventuais abusos e omissões do poder público quanto defender o patrimônio público contra ataques de particulares de má-fé. O Ministério Público brasileiro é formado pelo Ministério Público da União (MPU) e pelos ministérios públicos estaduais. O MPU, por sua vez, é composto pelo Ministério Público Federal, pelo Ministério Público do Trabalho, pelo Ministério Público Militar e pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Federal. “Ele foi beneficiado pela delação premiada, mas, pelo que consta, não revelou todo o material colhido. Caso essa situação continue, devemos pedir a anulação do benefício”, disse.
José Carlos Araújo, porém, disse que o colegiado pode fazer um convite a Durval Barbosa, mas não tem poder de exigir a presença dele, como teria uma comissão parlamentar de inquérito (CPI). Araújo defende a extensão dos poderes de CPI ao Conselho de Ética, o que permitiria a convocação obrigatória de Durval. A proposta de Franscischini ainda não foi analisada.
Edição – Pierre Triboli