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terça-feira, 15 de março de 2011

'Professor deve agregar valor à tecnologia', diz consultor de ensino!



Para o especialista colombiano Diego Leal, docentes devem usar redes sociais como ferramenta de ensino.



Luciana Alvarez - O Estado de S.Paulo

A caminho do Brasil para participar de um congresso sobre redes sociais aplicadas à educação, o consultor colombiano Diego Leal diz que o primeiro passo para que professores e escolas aproveitem melhor o potencial da tecnologia é reconhecer que o conhecimento não reside em apenas uma pessoa. O objetivo é, portanto, fortalecer cada um dos nós da rede. Mas Leal não acredita que essa nova estrutura ameace o papel do docente, que deve encontrar formas criativas de agregar valor às práticas tecnológicas dos seus alunos.


Como a conexão por redes sociais pode melhorar o processo educativo?

Cabe primeiro pensar o que significa conexão por redes sociais. Há ferramentas na internet e softwares que permitem levar a um nível diferente as redes sociais que já existem, mas os seres humanos vivem em redes sociais; não foi a tecnologia que inventou isso, ela só potencializou. Fazer uso das redes pode melhorar o ensino na medida que se reconheçam que processos essas redes potencializam e se identifiquem formas de as articular com o processo formal de aprendizagem. Tem de se pensar o indivíduo dentro de uma rede e as interações que se podem estabelecer entre os indivíduos, algo que vá além de um trabalho em grupo com papéis definidos. Mas, além de explorar a rede social presencial, pode-se pensar em usar a rede social de forma ampliada, que se faz possível com a tecnologia. Uma das implicações é que cada pessoa pode ficar mais próxima de outras com interesses semelhantes, algo que na rede local é mais complicado. Isso cria um potencial enorme para o processo educativo, mas não gosto de falar em melhorá-lo e sim em complementá-lo, abrir novas possibilidades.


Pode citar exemplos de bom uso das redes?

Na Colômbia há muito tempo colégios adotam os sociogramas para acompanhar a aprendizagem de cada estudante. Sociograma é o mapeamento das redes sociais dos alunos, a que grupos pertencem e como caminham ao longo do tempo. Agora, falando das novas tecnologias, é importante precisar o contexto. Há grupos que usam a internet de maneira muito efetiva para, por exemplo, promover a anorexia - o que muitos não classificariam como um bom uso. No contexto educativo, um exemplo interessante são os cursos abertos online, que se desenvolvem na rede de forma aberta - e não em sistemas fechados - e promovem práticas que caracterizam o conhecimento em rede. Não se trata simplesmente de casos de docentes - e há muitos - que usam o Facebook ou o Twitter para apoiar seu processo de ensino. Temos de aproveitar todo o ecossistema de informação atual para desenvolver formas de interagir. Minha sensação é que poderíamos fazer muito mais das plataformas de redes sociais.


Na prática, a tecnologia e as redes estão promovendo melhorias na educação?

De certa forma, sim, há muitos exemplos interessantes ao redor do planeta. Mas de novo o contexto é importante: há que se diferenciar o nível de impacto que se pode ter em sociedades altamente conectadas e em outros lugares onde o acesso não é tão fácil. Do ponto de vista acadêmico, há estudos que sugerem que o impacto da informática ainda é marginal, e outros que dizem que ela impacta, sim. Não há resposta definitiva, ainda é uma incógnita. O certo é que o uso da tecnologia e o pensar nessas redes sociais abre um potencial que, para o bem ou para o mal, ainda não está sendo totalmente aproveitado. Sinto que às vezes nos concentramos em perguntar como podemos ser mais efetivos ensinando e não nos perguntamos como podemos tornar mais eficiente o processo de aprendizagem dos estudantes.


E isso faz muito diferença?

Essas perguntas conduzem a ações diferentes. Quando se preocupa em ensinar melhor, o resultado costuma ser com coisas transmissíveis, como comunico com outros meios as informações que comunicava antes frente a uma classe normal. Nessa medida, a tecnologia termina subutilizada. Alguns usos das redes ficam centrados em uma única pessoa. Uma perspectiva mais comprometida de uso de redes sociais tem de levar em conta que o conhecimento não reside em uma única pessoa e o fortalecimento de cada um dos nós dessa rede é crítico para que todo o conhecimento latente se consolide.


O sr. acredita que depois de tantos anos de existência da internet, há uma decepção em relação à sua aplicação ao ensino?

Não sei se há uma decepção, mas vejo que a velocidade da mudança é muito mais lenta do que se imaginava. Quando apareceram os computadores pessoais, nos anos 1980, eles geraram uma expectativa de que iriam transformar totalmente o que estávamos fazendo em sala de aula. Depois aparece a internet, com um novo potencial, e depois as ferramentas que facilitam a publicação de informações. Parece sempre que isso vai mudar muitíssimo as coisas. É ingênuo acreditar que não houve impacto, mas ainda é um impacto um tanto marginal. A maneira como a informação flui, como se propagam as redes humanas e como se transformam as práticas é muito mais complexa e lenta do que se imaginava inicialmente. Para alguns há certa frustração, mas vejo sobretudo uma tomada de consciência cada vez mais forte da complexidade inerente ao problema. Mesmo onde há acesso, o uso segue sendo exatamente o mesmo.


Por que ainda é difícil que as oportunidades da tecnologia se traduzam em verdadeiras mudanças educativas?

Com muita frequência os projetos têm um discurso interessante e sofisticado - do ponto de vista político, educativo, institucional. Fala-se em mudanças, inovações, conectividade. Quando se vai observar a prática real, essas coisas não estão refletidas. Há um abismo entre discurso e a prática. Um dos fatores que dificulta o processo é que somos humanos e nos acostumados a fazer as coisas de certa forma. Depois que nos acostumamos, às vezes não conseguimos nos perguntar se há outras formas de fazer. Pessoalmente costumo me perguntar sempre o que aconteceria se estivesse equivocado. É uma pergunta que me ajuda, porque significa que há possibilidades melhores e me faz pensar em mudanças na prática. Aí está o núcleo do assunto: é a transformação na prática que leva a uma mudança no processo educativo, mas essa é justamente a transformação mais difícil. Ainda nos faltam experiências que sugiram formas de gerar mudanças de perspectiva na cabeça de uma pessoa.


Falta preparo por parte dos professores?

Quando se fala de tecnologia na educação, fala-se muito em formação dos docentes. Mas o curioso é que grande parte dessa formação do docente é feita de forma completamente convencional, usando as mesmas estratégias de comunicação de conhecimento e deixando de lado o potencial não só da própria tecnologia, como de outras perspectivas das redes sociais. Muitas das propostas de formação são boas, planejam coisas interessantes, mas na prática representam modelos que não abrem aos docentes em formação outras possibilidades. Também faltam experimentações nesse sentido.


Em que medida as redes virtuais ameaçam o papel do docente e das instituições de ensino?

Como costumava dizer sir Arthur C. Clarke (escritor britânico), se um professor pode ser substituído pela tecnologia, então deve sê-lo. É um princípio duro, mas faz sentido. Se um professor não está agregando valor ao que pode fazer a tecnologia, não há dúvidas de que seu papel está ameaçado. A tecnologia abre possibilidades que obrigam a repensar nosso papel como docentes e obviamente provocam perguntas sobre o papel das instituições de ensino. Mas se de um lado ela pode ver vista como ameaça, também pode ser uma oportunidade - prefiro ver assim. Vê-la como ameaça significa defender o que existe sem perguntar se o que temos no momento é o melhor.


Mas a troca aberta de conhecimento não pode de fato substituir professores e escolas?

Não acredito que exista uma ameaça de fundo. As instituições educativas são resistentes, acabam absorvendo as inovações que parecem disruptivas e as encaixam na prática tradicional (algo que tem relação com a resposta da decepção). Jogando com o futuro, algo que não gosto muito de fazer, não diria que exista em curto prazo uma ameaça latente e tangível. Em longo prazo, é provável a aparição de mecanismos alternativos aos sistemas formais. A medida que apareçam, teremos de repensar o papel do ensino tradicional, e isso inclui instituições e docentes. Vejo que a conectividade e a participação nas redes constituem uma oportunidade para repensar o papel do docente, de imaginar como fazer de forma mais efetiva coisas que não fazíamos tão facilmente, de descobrir coisas novas, que antes não podíamos.


E como fazer para que as redes sociais não sejam apenas fonte de diversão?

Estudos sugerem que o uso primordial tem a ver com o entretenimento, mas faltam dados sobre o contexto. Com isso dito, temo que exista a generalização de que a maioria dos estudantes está usando essas ferramentas apenas como diversão. Mas existem nas redes sociais muitos temas não exatamente acadêmicos, mas intelectuais, de interesses específicos. Como fazer com que essas práticas sejam mais comuns? É um problema muito similar ao da leitura, de como fazer com que as crianças leiam mais. Temos de observar as práticas reais e descobrir até que ponto elas têm a ver com diversão e até que ponto há um aproveitamento de aprendizado. Agora, se colocarmos essas redes no contexto do sistema educativo, há uma oportunidade enorme de aproveitá-las para que os estudantes desenvolvam seus próprios interesses. Isso não tem a ver só com tecnologia, mas com metodologia, o enfoque nas instituições. Essas transformações de práticas são mais complexas do que gostaríamos. E em muitos casos precisam de um respaldo institucional que não temos. Como docentes, temos de ser muito criativos, mas para isso temos de ser usuários dessas coisas. Temos uma enorme responsabilidade de exemplificar para os estudantes formas de usar essas ferramentas. É difícil eles se entusiasmarem se não estivermos entusiasmados. E contamos com nossos jovens para imaginar o que pode ser feito. São atores muito importantes. Como docentes, temos de manter a mente aberta, para complementar o que essas crianças e jovens já estão fazendo com a tecnologia.


QUEM É

Formado e pós-graduado em Engenharia da Computação, o colombiano Diego Ernesto Leal Fonseca trabalha há quase 20 anos com projetos de utilização de tecnologia na educação. É assessor do Ministério da Educação da Colômbia e também atua como professor na Universidad Pontificia Bolivariana (Medellín) e na Universidad de La Sabana (Bogotá). Também presta consultoria para diversas instituições de ensino da América Latina.


SERVIÇO

Congresso Internacional People Net in Education. Realização da ABCBranding. 25 de março, na Universidade Anhembi Morumbi. http://www.congressoredesocial.com.br/


Fonte: http://www.estadao.com.br/

História da energia nuclear: panes fatais!



História da energia nuclear é marcada por panes fatais
DA DEUTSCHE WELLE, NA ALEMANHA


Comparações entre acidentes no Japão e outras catástrofes nucleares se acumulam. História da energia nuclear é marcada por panes e desastres, frequentemente custando vidas humanas. Uma cronologia de quase seis décadas.

Julho de 2009: O reator da usina de Krümmel, no estado alemão de Schleswig-Holstein, é retirado imediatamente da rede, devido a curto-circuito num transformador. No final de 2007, um equipamento de construção análoga se incendiara, após um curto-circuito.

Julho de 2006: Um dos três reatores da central nuclear sueca Forsmark é automaticamente desligado da rede, em decorrência de um curto-circuito. Em seguida é desativado.

Dezembro de 2001: Uma explosão de hidrogênio provoca distúrbios de funcionamento na usina de Brunsbüttel, Schleswig-Holstein. Somente em fevereiro do ano seguinte, por pressão das autoridades de fiscalização, o reator é retirado da rede para inspeção.

Outubro de 2000: A controvertida usina tcheca de Temelin entra em funcionamento. Até o início de agosto de 2006 são registrados quase 100 casos de mau funcionamento.

Setembro de 1999: Numa unidade de reprocessamento de urânio, na cidade japonesa de Tokaimura, inicia-se uma reação em cadeia descontrolada, liberando altos níveis de radiação. A causa fora falha humana: operários insuficientemente preparados haviam depositado num tanque de precipitação sete vezes a quantidade máxima permitida de urânio.

Abril de 1986: Até hoje a maior catástrofe em todo o mundo foi a explosão de um reator de água leve moderado a grafite em Tchernobil, Ucrânia (na época parte da União Soviética). O incidente causa a morte imediata de 32 pessoas, milhares de outras sucumbem em consequência da irradiação nuclear, 120 mil têm que ser evacuadas. Nuvens e ventos carregam a radioatividade também à Europa Ocidental. Até hoje não se tem uma medida exata das consequências.

Março de 1979: Defeitos técnicos e falhas humanas provocam o colapso do sistema de refrigeração da usina Three Mile Island, próxima a Harrisburg, nos Estados Unidos. Ocorre o derretimento parcial do reator. A centenas de quilômetros do local do acidente, ainda se pode medir uma nuvem radioativa. Mais de 200 mil pessoas são evacuadas. Trata-se do mais grave acidente nuclear nos EUA, até hoje.

Janeiro de 1977: Curtos-circuitos em duas linhas de alta voltagem causam prejuízo total na central nuclear de Gundremmingen, na Baviera, Alemanha. O prédio do reator fica contaminado com água de refrigeração radioativa.

Julho de 1973: Segunda explosão na estação de reprocessamento de combustível radioativo de Windscale (rebatizada Sellafield a partir de 1983), na Inglaterra. Grande parte da unidade fica contaminada.

Outubro de 1957: Incêndio numa das centrais de Windscale, num reator para preparação de plutônio destinado à utilização em bombas. Gases radioativos contaminam uma área de centenas de quilômetros quadrados. Pelos menos 39 pessoas morrem em consequência.

Setembro de 1957: Na unidade soviética de processamento de plutônio Maiak explode um tanque subterrâneo de concreto contendo detritos radioativos líquidos. Pelo menos mil pessoas morrem, 10 mil sofrem contaminação: até hoje não há números confiáveis a respeito. Desde então, uma aérea de 300 por 40 quilômetros está contaminada por radioatividade. Trata-se de uma das maiores catástrofes atômicas da história, somente em 1976 relatada por um cientista dissidente, e oficialmente confirmada em 1990.

Dezembro de 1952: Grave explosão na central nuclear de Chalk River, próxima a Ottawa, Canadá. Uma fusão parcial destrói o núcleo do reator.


Jornal Folha de São Paulo